sábado, 8 de outubro de 2011

Minha história com Emma


Normalmente aos fins de semana não há muito que se fazer aqui,aquele era um sábado tão monótono quanto os outros,mas com um diferencial,a luz do dia estava deslumbrante,era inicio de tarde e a luminosidade era similar a do amanhecer. Pedi desculpas aos livros,me arrumei e fui ver o mundo lá fora. Peguei minha bicicleta,o mp3 jurássico,uma maçã e fui pedalar na universidade. Ainda não sei como aquela pobre maçã chegou inteira já que foi pulando e batendo na cesta por todo o trajeto. Gosto de percorrer os lugares que ainda não conheço,embora quase rodas as rotas terminem num lugar comum. Fui lá eu,passei pelas árvores,pelo lago e pelas flores cantando Feist,Zélia Duncan,Mafalda Veiga e Aimee Mann a altos brados,para a infelicidade de quem ouvia. Cheguei a grande área esportiva,com suas quadras,campos e piscinas,separando as quadras de tênis do asfalto há uma fileira de pinheiros num gramado e bancos de troncos,parei por alí,bem no meio das grandes árvores. Sentei-me num dos troncos com minha maçã e senti o vento,esse sofro ficou gravado,pois parecia seda envolvendo meu corpo. Fechei os olhos e apenas fiquei,até me sentir parte daquilo,aquela paisagem bucólica,o sol fraco e gentil,as formigas me fazendo de atalho e as folhas balançando. Tive neste momento uma das mais profundas sensações de paz de minha vida. Os sons eram calmos...o vento,as folhas,as crianças ao longe brincando. Senti-me imensamente grata a Deus tudo. Abri os olhos quase em alfa,respirei mais um pouco a tranquilidade e abocanhei a maçã. Abracei  um dos pinheiros que apesar da casca grossa só me fez carinho e me veio um pensamento: Eu gostaria de ter um cachorro aqui.  Sim,um cachorro,não desejei alguém querido,uma câmera,um lençol pra deitar,nada disso,queria apenas um amigo de quatro patas. Fiquei mais um pouco,despedi-me e fui embora. Bem perto dalí, na estrada com gramado dos dois lados avistei algo correndo em minha direção,não tenho boa visão então realmente não sabia o que era num primeiro momento,parei a bicicleta e esperei,uma cadelinha parda foi chegando e parou há uns dois metros de mim,sentou-se e fez cara de paisagem. Eu andei um pouco mais,ela acompanhou e sentou-se novamente à mesma distancia. Era comigo mesmo. Chamei-a pra perto,ela desconfiada veio devagar até se entregar a um cafuné. Fui pra grama com ela e ficamos alí um pouco. Como louca eu disse a ela que tinha de ir embora,montei na bicicleta e fui,ela me seguiu por uns 200 metros e novamente eu parei,ela também. Me olhou como quem convida pra uma prosa e eu atendi. Outra vez nós duas sentadas na grama,alguns garotos passaram por nós com cães em coleiras,ela rosnou e sem pensar eu disse: Emma!!  Ela parou,me olhou e parece ter gostado de seu novo nome. Emma veio mais pra perto,deitou-se atras de um afago e me fez companhia por cerca de 40 minutos. Éramos só nós olhando o tempo passar.
Virei-me para ela e expliquei que estava escurecendo e eu já ia,sem me importar nem um pouco com os olhares de quem passava. Levantei-me e fui. Desta vez Emma não me seguiu,só me olhou até eu desaparecer na curva.
Só então dei por mim do que houvera,eu pedi um cão e tive um. Talvez Emma também tivesse me desejado. Seguindo sua incrível coerência e sabedoria,o universo nos presenteou uma com a outra.
Nos dias que se seguiram comprei um pacote de biscoitos caninos e passei a andar com alguns na mochila. Em meu próximo encontro com Emma fizemos um piquenique (pelo amor de Deus,não pensem que comi os biscoitos caninos!) numa tarde de muito calor. Gosto de passar por aquele trecho pois quase sempre a encontro,e sempre nos cumprimentamos alegremente.
Pensei muito naquilo que peço a Deus todos os dias e cheguei à conclusão de que peço demais coisas que não preciso ter. Meu dia não precisa ter mais 10 horas,meu aluguel não precisa baixar mais,meu vizinho não tem que fazer silencio só porque eu estou de tpm. O que eu preciso mesmo é reclamar menos,cobrar menos e fazer apenas um pedido: Senhor,ajude-me a aproveitar o bom dia que me dá.

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